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domingo, 16 de fevereiro de 2014

A Sabedoria Antiga - Introdução - Parte 03 - Taoísmo

<<< VER CAPÍTULO ANTERIOR

No Tao Teh Ching (a), o ensinamento tradicional com relação ao Não-manifestado e ao Manifestado (b) ressalta claramente:

"O Tao (c) que pode ser observado não é o Tao eterno e imutável. Quando ele não tem absolutamente nome, é Aquele que produziu o Céu e a Terra; quando possui nome, é a Mãe de todas as coisas... Sob estes dois aspectos, é o mesmo realmente, mas à medida que se produz o desenvolvimento, recebe diferentes nomes."

Resumindo; isto é para nós o Mistério (i, 1, 2, 4)

Os que estudam a Cabala (d) lembrar-se-ão de um dos Nomes Divinos, "O Mistério Oculto". Mais longe temos:

"Houve alguma coisa de infinito e de perfeito, vindo à existência antes do Céu e da Terra. E como Isto era tranquilo e sem forma, solitário e inalterável, estendendo-se por tudo e sem risco de se extinguir! Isto pode ser considerado como a Mãe de todas as coisas. Disto ignoro o nome e o designo pelo termo Tao. Fazendo um esforço para dar-lhe um nome eu o chamo O Grande. Mas Isto passa como um fluxo contínuo. E ao passar, Isto se afasta. E tendo-se afastado, Isto volta." (XXV, 1-3)

É extremamente interessante achar aqui esta noção de efusão e reabsorção da Vida Una, noção que nos é tão familiar na literatura hindu. O versículo seguinte também nos parece familiar:

"Todas as coisas que estão sob o Céu saíram daquele considerado como existente." (XV, 2)

Para que um Universo possa existir, o Não-Manifestado deve produzir o Único, donde procedem a Dualidade e a Trindade:

"O Tao produziu o UM; UM produziu DOIS; DOIS produziu TRÊS; os TRÊS produziram todas as coisas. Todas as coisas têm atrás de si a obscuridade (donde elas saem) e caminham para alcançar a luz (na qual elas se banham) enquanto são mantidas em harmonia pelo Sopro do Vácuo." (XLII, 1)

"O Sopro do Espaço" seria melhor tradução. Tendo tudo saído do Aquele, Aquele existe em tudo.

"O Grande Tao penetra todas as coisas. Encontramo-lo tanto à esquerda como à direita. Ele envolve todas as coisas como uma roupagem, mas não tem a pretensão de as dominar. Ele pode ser encontrado nas menores coisas. Todas as coisas voltam à sua raiz e desaparecem, sem saber que é Ele que preside a sua volta. Ele pode ser encontrado nas maiores coisas." (XXXIV, 1,2)

Chwang-ze (quarto século antes de Jesus Cristo) (e), em sua exposição de ensinamentos antigos, faz alusão às inteligências espirituais que procedem do Tao;

"Ele tem em si mesmo sua raiz e sua causa de existência. Antes que houvesse céu e terra, em tempos remotos, Ele existia com toda a segurança. Dele provém a misteriosa existência de Deus." (Livro VI, 1a parte, Séc. VI, 7)

Segue-se uma lista de nomes destas Inteligências. Mas o papel preponderante que representam seres na religião chinesa é de tal maneira conhecido, que se torna inútil multiplicar as citações sobre tal assunto.

O homem é considerado como uma trindade, o taoísmo (f), reconhecendo nele o espírito, a inteligência e o corpo. Esta divisão aparece claramente no Clássico da Pureza, quando diz que o homem deve libertar-se do desejo para atingir a união com o Uno:

"Ora, o espírito do homem ama a pureza, mas é perturbado por seu pensamento. O pensamento do homem ama a tranquilidade, mas seus desejos o arrastam. Se ele sempre pudesse evitar seus desejos, seu pensamento tornar-se-ia tranquilo. Que ele purifique seu pensamento, e seu espírito tornar-se-á puro... A razão pela qual os homens são incapazes de atingir este estado é que seu pensamento não está perfeitamente puro e seus desejos não foram afastados. Se o homem consegue despedir seus desejos, ao contemplar interiormente seu pensamento, este não existe mais em si mesmo; ao considerar exteriormente seu corpo, este não existe mais para si mesmo; e quando volta seus olhares para longe, para as coisas de fora, nada há mais de comum entre ele e elas." (i, 3, 4)

Em seguida, após a enumeração das etapas do caminho que conduz interiormente para "o estado da perfeita tranquilidade", ele pergunta:

"... Como poderá nascer algum desejo neste estado de repouso que se possui, alheio ao lugar que se ocupa? E quando nenhum desejo mais se manifesta, então nascem a calma real e o verdadeiro repouso. Esta calma real torna-se uma qualidade constante e contrasta com as coisas exteriores. Na verdade, esta qualidade real e constante mantém em seu poder a natureza. Nesta constante tranquilidade encontram-se a pureza e o repouso verdadeiros. Quem possui esta absoluta pureza entra gradualmente na Inspiração do verdadeiro Tao."

As palavras "inspiração do", acrescentadas pelo tradutor, tendem antes a velar o sentido do que a esclarecê-lo. Porque penetrar no Tao está inteiramente de acordo com a idéia expressa e com as outras escrituras sagradas.

O taoísmo insiste muito no aniquilamento do desejo. Um comentador do Clássico da Pureza observa que a compreensão do Tao depende da pureza absoluta e que:

"... a aquisição desta pureza absoluta depende inteiramente da abdicação do desejo, vibrante lição prática que ressalta deste tratado."

O Tao Teh Ching diz:

"Devemos achar-nos sempre sem desejos, se quisermos sondar o mistério profundo. Mas se o desejo nos domina, não veremos senão a orla exterior." (I, 3)

A reencarnação não parece ter sido ensinada tão claramente como se poderia achar, embora encontremos passagens que exigem tacitamente esta idéia fundamental, tal como o ser considerado como passando através de nascimentos, quer animais (g), quer humanos. Assim, Chwang-ze conta-nos a história original e instrutiva de um moribundo, ao qual seu amigo diz:

"Na verdade, o Criador é grande! Em que te transformará Ele agora? Aonde te levará Ele agora? Fará de ti o fígado de um rato ou a pata de um inseto (h)?

Szelaiz responde:

Seja para onde for que um pai ordene seu filho ir, ao este, ao oeste, ao sul, ao norte, o filho obedece simplesmente... Suponhamos um grande fundidor ocupado em fundir seu metal. Se o metal se levanta subitamente (no cadinho) e diz: 'Quero ser modelado em uma espada semelhante ao Moysh (i)', o grande fundidor certamente acharia a coisa estranha. Assim também quando uma forma estiver em via de ser formada no molde da matriz, se ela exclama: 'Quero ser um homem, quero ser um homem', o Criador acharia certamente a coisa estranha. Desde que se compreenda que o céu e a terra são um vasto cadinho e o Criador, um grande fundidor, qual o lugar a que possamos ser obrigados a ir que não nos convenha? Nascemos como de um sono pacífico e morremos para um calmo despertar. (Livro VI, 1a parte, Séc. VI)

VER PRÓXIMO CAPÍTULO >>>

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Minhas Notas:

(a) Tao Teh Ching: o "Livro do Caminho Perfeito", de autoria atribuída a Lao Tse. Nesse livro se baseia a doutrina espiritualista do Taoísmo.

(b) Segundo o Taoismo, há o Tao imanifesto, a tudo preexistente, infinito e incognoscível; dele deriva o Tao manifesto, que corresponde a e está presente em todo o universo perceptível.

(c) o vocábulo Tao, aqui, abrange tanto o Tao Manifestado, quanto o Tao não-manifestado.

(d) Cabala é uma escola espiritual ocultista, originária do judaísmo, que entende estarem presentes nos cinco primeiros livros do antigo testamento (Torá), as chaves codificadas enviadas por Deus a Moisés e que encerram os segredos do Universo.

(e) Chwang-ze: filosofo taoista chinês, autor de livros que levam seu próprio nome. Viveu no século IV a.C.. Seu nome também é encontrado com as grafias Chuang Tsu, Chuang Tse, Zhuang Tzu, Zhuang Tze, Zhuang Tse, Zhuang Tsu, Chouang-Dsi, Chuang Chou1 , Tchuang-tsé , Tchuang-Tseu e Chuang-tzu.

(f) taoísmo: doutrina espiritualista que ensina a harmonia com o "Tao", o princípio e a causa de tudo que existe. A base do taoísmo pode ser encontrada no "Tao Teh Ching", livro de autoria atribuída a Lao-Tse e que conteria os ensinamentos desse sábio chinês redigida sob a forma de 81 provérbios.

(g) algumas correntes de pensamento consideram que o lampejo primitivo de vida, o sopro Divino, ou "Mônada" evolui progressivamente por muitos milênios, passando por existências físicas numerosas nos reinos mineral, vegetal e animal, antes de chegar à encarnação humana, forma na qual evolui posteriormente, através de sucessivas reencarnações.

(h) Esse trecho corresponderia a uma parábola, a um diálogo dentro de uma alegoria. Levado ao pé da letra, é uma alusão à metempsicose, processo que implicaria retrocesso na evolução do espírito e que não
é considerado como um fato real pela maioria das religiões atuais, incluindo o Espiritismo, o Cristianismo, o Catolicismo, o Protestantismo, o Judaísmo e o Islamismo. Contudo, o ensinamento essencial dessa parábola, não é qualquer alusão à metempsicose, mas a referência à reencarnação e à submissão natural que deve haver da criatura para com o Criador.


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